O futuro chegou: o crescimento dos grupos de K-pop virtuais
O K-pop sempre foi conhecido por ultrapassar fronteiras — seja com seus visuais impecáveis, coreografias milimetricamente ensaiadas ou conceitos que parecem saídos de um filme de ficção científica. Mas agora, uma nova revolução está acontecendo: a ascensão dos grupos de K-pop virtuais.
Eles não são humanos, mas têm nomes, personalidades, vozes e até histórias próprias. E o público? Está cada vez mais curioso — e até emocionalmente conectado — com esses novos “ídolos digitais”.
De onde veio essa tendência?
O conceito de artistas virtuais não é exatamente novo. No Japão, por exemplo, a cantora Hatsune Miku, criada em 2007, abriu caminho ao mostrar que a tecnologia podia transformar uma voz sintetizada em um fenômeno cultural.
Mas no caso do K-pop, a ideia foi levada para outro nível. O que começou como uma simples curiosidade virou uma aposta séria das empresas de entretenimento coreanas. Com o avanço da tecnologia, especialmente da inteligência artificial e da animação 3D, o mercado viu uma oportunidade de criar algo completamente novo: grupos de idols que existem apenas no mundo digital, mas com impacto real no mundo físico.
Hoje, já existem agências especializadas em desenvolver “trainees virtuais”, com design inspirado na estética coreana e rotinas de promoção semelhantes às dos grupos tradicionais.
Os primeiros passos: do experimento ao sucesso
Um dos primeiros nomes a ganhar destaque foi aespa, da SM Entertainment. Embora o grupo seja formado por artistas reais, cada integrante possui uma versão virtual, chamada “ae”, que interage com elas em videoclipes e histórias dentro do universo chamado KWANGYA.
Esse conceito híbrido, unindo o real e o digital, foi um sucesso e provou que o público estava pronto para algo diferente. O impacto de aespa abriu as portas para novas experiências — e inspirou outras empresas a criarem grupos 100% virtuais, compostos apenas por personagens digitais.
Um exemplo recente é Saryeonghwa (四靈花), grupo criado pela GRIM Production, que mistura mitologia coreana e estética moderna. Cada integrante tem uma história baseada em antigas lendas, e o grupo se apresenta com uma identidade poética, quase etérea. Essa fusão de folclore e tecnologia tem chamado atenção tanto na Coreia quanto internacionalmente.
Por que os grupos virtuais estão crescendo?

Existem várias razões pelas quais esse tipo de projeto vem ganhando força — e não é só por causa da curiosidade tecnológica.
Liberdade criativa total:
Com personagens virtuais, os limites praticamente desaparecem. Eles podem mudar de cabelo, voz ou até “idade” sem precisar de uma pausa. Podem atuar em universos mágicos, futuristas ou históricos — tudo é possível.Controle e estabilidade:
Empresas de entretenimento enfrentam desafios constantes com artistas humanos: agendas lotadas, saúde mental, escândalos e contratos complexos. Com idols virtuais, há menos riscos. A imagem é controlada digitalmente, e qualquer problema pode ser “reprogramado”.Interatividade com o público:
Muitos grupos virtuais usam plataformas de streaming e redes sociais para conversar com fãs em tempo real, simulando interações realistas. Essa experiência personalizada cria um vínculo emocional que surpreende até os mais céticos.Acesso global:
Enquanto grupos humanos enfrentam limitações logísticas, um idol virtual pode se “apresentar” em qualquer lugar do mundo ao mesmo tempo, usando realidade aumentada ou transmissões em 3D.
O fator emocional: por que os fãs se conectam com o que não é real?
Essa talvez seja a pergunta mais interessante. Afinal, por que tantas pessoas se apegam a personagens digitais?
A resposta está no que o K-pop sempre soube fazer de melhor: construir histórias e emoções. Os idols virtuais são desenvolvidos com personalidades complexas, passados detalhados e até dramas próprios. Eles não são apenas “avatares bonitos” — são personagens com os quais o público pode se identificar.
Por exemplo, uma integrante pode ter uma narrativa de superação, outra pode ser tímida e sonhadora. Essas histórias são contadas através de animações, músicas e interações online, fazendo com que os fãs sintam que realmente conhecem aquele personagem.
É uma mistura entre fandom e ficção, onde a linha entre o real e o imaginário fica cada vez mais tênue.
Quando o palco é digital, mas o impacto é real
O sucesso desses grupos também tem reflexos no mundo dos negócios. As apresentações ao vivo em realidade virtual ou aumentada estão se tornando um novo tipo de espetáculo.
O público compra ingressos para assistir a shows virtuais em tempo real, com tecnologia que permite ver os idols em 3D, interagindo com os fãs — tudo sem sair de casa. Plataformas como CHZZK (da Naver) e Zepeto estão entre as mais usadas para esse tipo de evento.
Além disso, há toda uma indústria paralela se formando: roupas virtuais, NFTs de colecionáveis, videoclipes interativos, e até álbuns digitais que se atualizam conforme o enredo dos personagens evolui.
Para as empresas, isso significa novas formas de monetização e um contato contínuo com o público. Para os fãs, é a chance de viver uma experiência imersiva e inovadora.
Exemplos de grupos de K-pop virtuais que estão se destacando
1. Saryeonghwa (四靈花) – Estreia em 2025
Criado pela GRIM Production, o grupo é formado por quatro integrantes inspiradas em criaturas espirituais da mitologia coreana. Com uma estética mística e narrativa poética, elas se apresentam como seres vindos de diferentes mundos que se unem através da música.
2. MAVE: – Estreia em 2023
Um dos nomes mais populares do K-pop virtual. Criado pela Metaverse Entertainment em parceria com a Kakao Entertainment, o grupo é composto por quatro integrantes digitais que “vivem” em um universo futurista chamado Idypia. Suas músicas abordam temas de identidade, tecnologia e emoção humana.
3. PLAVE – Estreia em 2023
Diferente dos demais, o PLAVE mistura o real e o virtual de maneira mais orgânica. Os integrantes são interpretados por artistas humanos, mas aparecem em forma de avatares animados em 3D. Eles participam de lives, jogos e até programas de variedades no formato virtual.
4. ETERNITY – Estreia em 2021
Desenvolvido pela Pulse9, o ETERNITY conta com 11 integrantes criadas através de inteligência artificial e deep learning. Cada membro tem um rosto gerado digitalmente, e a empresa utiliza votação dos fãs para definir quais integrantes aparecem em cada comeback.
5. Aespa – ae – Estreia em 2020
Embora não seja um grupo totalmente virtual, aespa revolucionou o conceito ao integrar versões digitais de suas integrantes reais. Essa fusão entre realidade e metaverso abriu o caminho para toda a onda de inovação que se seguiu.
O debate ético e o futuro do K-pop
Apesar do encanto tecnológico, nem tudo são flores. Há debates intensos sobre até onde o uso de idols virtuais pode ir. Muitos especialistas questionam se esse tipo de projeto pode desumanizar a indústria, transformando o K-pop em um produto puramente comercial, sem espaço para a vulnerabilidade real que os fãs tanto amam.
Outros apontam que os idols virtuais podem acabar sendo usados para substituir artistas humanos em determinadas funções, o que levanta questões sobre emprego, autenticidade e arte.
Mas também há quem veja tudo isso como uma nova forma de expressão artística, uma maneira de contar histórias que antes seriam impossíveis de realizar com atores de carne e osso.
O mais provável é que o futuro do K-pop combine os dois mundos — o humano e o virtual — em experiências cada vez mais ricas e emocionais.
Um novo tipo de ídolo

O crescimento dos grupos de K-pop virtuais mostra que o gênero está sempre disposto a se reinventar. Eles não vieram para substituir os artistas reais, mas para expandir os limites da imaginação.
Se o K-pop já era conhecido por unir música, moda e narrativa, agora ele adiciona uma nova camada: o digital.
A geração que cresceu assistindo animes, jogando videogames e vivendo online está pronta para aceitar que um personagem 3D também pode tocar corações. E talvez seja justamente isso o que torna essa nova fase tão fascinante: a ideia de que emoções verdadeiras podem nascer até mesmo do que não é real.
Onde tudo isso pode nos levar?
A tendência é clara: nos próximos anos, veremos cada vez mais grupos virtuais debutando, seja de forma independente ou em parceria com artistas reais. O público vai se acostumar com a presença deles nas premiações, nos palcos e até nas trilhas sonoras de doramas e animes.
E se o K-pop sempre foi sobre inovação, paixão e espetáculo, os idols virtuais são apenas mais uma forma de continuar essa história — uma história que mistura arte, tecnologia e emoção de um jeito que só a Coreia do Sul conseguiria fazer.
