Tensões entre EUA e China colocam Coreia do Sul em posição delicada
Por Se Eun Gong — 2 de novembro de 2025
GYEONGJU, Coreia do Sul — O recente encontro entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping durante o evento da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) destacou como países como a Coreia do Sul continuam presos no meio da rivalidade crescente entre as duas maiores potências do mundo.
Os líderes dos Estados Unidos e da China se reuniram por 1 hora e 40 minutos no aeroporto de Busan, próximo à cidade anfitriã do evento, Gyeongju, onde Trump foi recebido pelo presidente sul-coreano Lee Jae Myung em uma cerimônia oficial no Museu Nacional de Gyeongju.
Apesar da ausência de Trump na principal cúpula econômica da APEC, a disputa comercial entre EUA e China dominou as discussões do encontro. Em uma declaração conjunta, os representantes dos 21 países-membros reconheceram os desafios enfrentados pelo sistema de comércio global e pediram por um ambiente de “resiliência e benefícios para todos.”
O papel da Coreia do Sul na nova ordem global
Como presidente da APEC deste ano, Lee Jae Myung destacou a importância do diálogo multilateral mesmo diante das diferenças políticas e econômicas entre os países.
“O objetivo é identificar desafios comuns e maximizar a cooperação dentro do que for possível”, afirmou Lee.
No entanto, especialistas sul-coreanos apontam que essa cooperação é cada vez mais difícil, já que o governo americano tem se afastado do livre-comércio e adotado políticas mais protecionistas e transacionais.
Segundo Jeffrey Robertson, professor de Estudos Diplomáticos da Universidade Yonsei, a APEC prosperou após a Guerra Fria graças à “liderança benigna dos EUA” e à ausência de grandes tensões de segurança — fatores que hoje não se mantêm.
“Agora, países menores da região estão presos entre os Estados Unidos e a China”, explica o pesquisador.
Coreia do Sul: entre os EUA e a China

O dilema da Coreia do Sul não é novo. Desde 2016, quando o país permitiu a instalação do sistema antimísseis americano THAAD, a China retaliou com sanções que atingiram duramente o turismo, o varejo e o entretenimento coreano — restrições que ainda persistem.
Mesmo assim, o comércio entre Coreia e EUA tem crescido rapidamente. Dados de 2024 da Associação de Comércio Internacional da Coreia mostram que as exportações para os EUA estão prestes a superar as destinadas à China — algo impensável há uma década, quando Pequim liderava com ampla vantagem.
Em visita a Washington em agosto, o presidente Lee declarou o fim da antiga política de “EUA para segurança, China para economia.”
Um novo acordo tarifário firmado nesta semana reforça essa aproximação: os EUA reduziram tarifas sobre automóveis e peças, enquanto a Coreia do Sul se comprometeu a investir 350 bilhões de dólares em território americano nos próximos dez anos.
Relação com a China se desgasta
Enquanto isso, a rivalidade tecnológica com a China cresce. Antes vista como uma parceira de produção, a China hoje compete diretamente com a Coreia em setores como carros elétricos e eletrônicos.
Esse cenário tem piorado a imagem da China entre os jovens sul-coreanos. Nos últimos meses, protestos anti-China tomaram as ruas de Seul e Gyeongju, com manifestantes pedindo o fim da influência do Partido Comunista Chinês.
Durante a APEC, Lee e Xi tentaram sinalizar reconciliação em uma reunião bilateral que o assessor de segurança nacional Wi Sung-lac chamou de uma “restauração abrangente” das relações. Ambos reafirmaram o compromisso com a cooperação econômica estável.
Porém, as tensões continuam. A China ainda mantém sanções relacionadas ao THAAD, e recentemente impôs restrições a subsidiárias americanas da Hanwha Ocean, empresa sul-coreana de construção naval.
O governo chinês também criticou a decisão de Trump de autorizar a construção de um submarino nuclear coreano nos EUA, afirmando que a medida ameaça a paz regional.
Entre dois gigantes
No fim, a Coreia do Sul segue tentando equilibrar seus laços econômicos e estratégicos entre as duas potências.
Com a rivalidade entre EUA e China moldando a nova ordem mundial, Seul se vê obrigada a redefinir seu papel — tentando proteger seus interesses sem se tornar refém das disputas de Washington e Pequim.
cr: npr
